15 de abril de 2008

Sombras de Chávez, Morales e Correa pairam no Paraguai

A sombra dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador) paira sobre as eleições do próximo domingo no Paraguai, em meio a acusações de opositores do ex-bispo Fernando Lugo de que ele estaria recebendo apoio dos três líderes latino-americanos para sua campanha.

A denúncia mais grave partiu do próprio presidente paraguaio, Nicanor Duarte.

"Agitadores da Venezuela e do Equador vieram e estão alojados em hotéis centrais para tumultuar as eleições", declarou Duarte nesta terça-feira, sem identificar os supostos agitadores.

"Temos informação de que no departamento de San Pedro foram escondidas bombas e estão sendo preparados atos de violência depois da vitória de Blanca Ovelar (candidata do partido Colorado, governista)", afirmou.

"Planejam queimar propriedades, postos de gasolina e outros recursos para perturbar a paz social. O responsável pela violência e pelas mortes será Fernando Lugo e sua corja de delinqüentes e seqüestradores", continuou. Lugo, um ex-bispo de tendência esquerdista, lidera as pesquisas de intenção de voto.

O presidente Duarte disse ainda que o governo informou o Ministério Público sobre as denúncias. "Como são uns fracassados, estão tentando obscurecer e atrapalhar a disputa", afirmou. "Cairemos sobre eles com todo o peso da lei".

No último capítulo da singular campanha eleitoral paraguaia, Lugo figura como favorito com 34% das intenções de voto. Seus principais adversários são o ex-general Lino Oviedo, do partido União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), com 29%, e a governista Blanca Ovelar, com 28,5%, segundo uma pesquisa do jornal Última Hora.

Na reta final da campanha, uma propaganda paga pelo partido Unace de Oviedo nos jornais e na televisão mostrou os retratos de Chávez e Morales junto a uma foto do ex-bispo com a legenda "Conflitivos".

No mesmo anúncio, aparece uma imagem de Oviedo junto com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Cristina Kirchner (Argentina), sob a legenda "Negociação".

Os governos da Bolívia e da Venezuela reagiram imediatamente através de suas embaixadas em Assunção, chamando a propaganda de "ofensiva" e "revoltante" e exigindo sua suspensão.

"Exigimos a suspensão imediata dessa desrespeitosa propaganda", escreveu a Oviedo o embaixador boliviano Marco Antonio Vidaurre. Enquanto isso, a embaixada da Venezuela se dirigiu diretamente ao Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE), reclamando do anúncio.

Oviedo respondeu por escrito ao embaixador boliviano: "Não reconheço em vossa pessoa autoridade para se intrometer em nossos assuntos internos e em decisões que apenas nosso povo pode tomar".

Tanto dirigentes políticos oficialistas como oviedistas têm afirmado em seus comícios que o bispo recebe ajuda financeira "dos petrodólares de Chávez".

Porta-vozes da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), formação de Lugo, admitiram que assessores espanhóis, venezuelanos e equatorianos trabalham para sua campanha.

Por sua vez, Lugo reconheceu ter visitado Rafael Correa no Equador no segundo semestre de 2007, e que o presidente equatoriano por sua enviou "por cortesia" sua chefe de campanha ao Paraguai para assessorar a APC.